terça-feira, 27 de agosto de 2019



O equilíbrio entre dar e receber numa relação e um exemplo das consequências de seu desequilíbrio.
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“Certa vez um moço me procurou com uma neurose de compulsão. Trouxe-me um manuscrito de sua autoria de cento e quarenta páginas, dando a análise freudiana completa de seu caso. Era tão perfeito e de acordo com as regras, que poderia ter sido publicado no Jahrbuch. 



Disse-me: ‘O senhor poderia ler isso e dizer-me por que não estou curado, embora tenha feito uma psicanálise completa?’ Mais tarde respondi-lhe: ‘É verdade. Eu também não consigo entender a razão. Você deveria estar curado, de acordo com as regras do jogo, mas se julga que não está curado, tenho que acreditar’. Ele voltou à questão: ‘Por que não estou curado tendo a visão da estrutura da minha neurose?’ 
Respondi-lhe: ‘Não posso criticar a sua tese. A coisa toda está maravilhosamente bem demonstrada. Mas resta apenas a questão, e talvez bem tola: você não menciona de onde veio nem quem são os seus pais. 
O seu último inverno foi passado na Riviera e o verão em St. Moritz. Você tomou bastante cuidado na escolha de seus pais?’ – ‘Nenhum, em absoluto’.
 – ‘Você tem alguma fonte de renda excelente que lhe dê um ótimo dinheiro?’ – ‘Não, não tenho jeito para fazer fortuna’.
 – ‘Então foi contemplado com a herança de um tio rico?’
 – ‘Não’. – ‘Bem, e de onde vem o seu dinheiro?
’ – ‘Bom, eu tenho um modo de me arranjar. Tenho uma pessoa que me dá o dinheiro’.
 – 'Deve ser um amigo maravilhoso’. E ele replicou: ‘É uma mulher’. Ela era mais velha que ele, tinha trinta e seis anos, uma professora primária, com um salário pequeno que, como velha solteirona, se apaixonou pelo rapaz de vinte e oito. Passava necessidades a fim de que ele pudesse passar o verão em St. Moritz e o inverno na Riviera.
 O que eu lhe disse foi o seguinte: ‘E você vem me perguntar por que está doente...!’ E sua resposta foi essa: ‘Ora, o senhor tem uma posição moralista; isto não é nada científico’. Respondi-lhe: ‘O dinheiro que está em seu bolso é o dinheiro da mulher que você está tapeando’. Ele reagiu: ‘Não. Não concordamos sobre isso. Conversei com ela seriamente, e nunca houve uma discussão por eu receber dinheiro dela'.
 Respondi: ‘Você está fingindo para si mesmo que esse dinheiro não é dela, mas vive com esse dinheiro, o que é imoral e essa é a causa de sua neurose de compulsão. Trata-se de uma reação compensatória e de uma punição a uma atitude imoral’. Um ponto de vista totalmente anticientífico, é evidente, mas estou convencido de que ele merece a sua neurose compulsiva e será a sua companheira até o último dia de sua vida, se ele continuar a comportar-se como um porco.”

- A Vida Simbólica - C. G. Jung

"O dinheiro possui uma dimensão espiritual. Ele responde como se houvesse alma, e um fino senso de justiça e injustiça" Bert Hellinger

Fonte RenéSchubert

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