Um método fenomenológico usado para melhor reintegração de réus primários à sociedade e para o convívio dentro do sistema prisional é a Constelação Familiar. Trabalha-se com uma terapia em grupo entre jovens detentos sem reincidência de outros crimes que, por razão de uma instabilidade emocional ou psíquica, tenham sido condenados a restrição de liberdade.
Na Constelação Familiar, trabalha-se com os detentos as causas que os levaram a cometer a atitude que culminou na reclusão forçada.
O histórico familiar, o ambiente sociocultural em que cresceram e os traumas que influenciaram suas personalidades também entram em pauta. É dado enfoque na ideia de que eles pertencem à sociedade e de que precisam cumprir a pena em vigor para poderem recomeçar suas vidas.
Por meio da Constelação Familiar, os detentos estão passando a acreditar em melhores perspectivas, apesar de todos os entraves que a condição atual possa lhes reservar em um primeiro instante.
Desenvolver o autoconhecimento e estar mais ciente de suas fraquezas e virtudes também é algo que o detento aprende, de modo a poder ser reinserido na sociedade de forma mais satisfatória.
A Constelação Familiar tem demonstrado alto grau de reintegração de prisioneiros à sociedade sem registro de reincidência de crimes. Também se verifica a convivência dentro do sistema prisional, mais harmoniosa nos que se submetem a esta vivência em grupo.
Na legislação penal brasileira, o método pode ser usado como uma das condições para a diminuição de pena.
Origem e conceito da Constelação Familiar
A metodologia do estudo das causas e motivações que conduziram os condenados ao momento atual que vivenciam foi desenvolvida pelo psicanalista alemão Bert Hellinger.
Hellinger foi missionário por 20 anos na África, convivendo e observando as tribos Zulus.
Com a experiência e ao decidir se especializar em psicanálise, passou a enxergar um padrão nas relações familiares, padrão que constatou ser universal em qualquer grupo familiar.
Estudos de Hellinger
Quando um fato traumático ocorre dentro de uma família, é comum que esse trauma não tenha se originado repentinamente, por mera obra do acaso. Acredita-se que se trata de uma repetição de um evento semelhante que houve na família anteriormente.
É como se as repercussões do primeiro grande trauma fossem reproduzidas geração após geração, criando as mesmas, ou muita parecidas, condições que proporcionaram que um ou mais integrantes da família enveredassem pelo desfecho ruinoso.
No trabalho em grupo desenvolvido por Hellinger, o objetivo é identificar o possível trauma, que muitas vezes não é tão evidente como um episódio mórbido.
Em seguida observam-se os movimentos que vão acontecendo, os comportamentos, os sentimentos que se manifestam. E por fim, a compreensão das causas quanto à reprodução de determinados atos, que na maioria das vezes são inconscientes. E diante desta nova visão, as pessoas podem fazer escolhas mais eficazes e efetivas.
Esclarecer pontos do passado, contribuindo e protegendo a geração atual e os descendentes das repercussões das atitudes dos ancestrais é um dos objetivos da Constelação Familiar.
Talvez a melhor ilustração quanto à filosofia da Constelação Familiar seja um emaranhado de teia, um longo circuito de conexões que envolvem o indivíduo antes mesmo dele nascer.
Do ponto de vista da Constelação Familiar, ninguém nasce sozinho, isolado. Todos fazem parte de um sistema familiar que carrega toda uma bagagem de experiências que contribuirão para a formação do ser que se desenvolverá em seu meio.
A Constelação Familiar no Brasil
Uma das primeiras experiências com a Constelação Familiar ocorreu no estado do Ceará, por meio do programa “Olhares e Fazeres Sistêmicos no Judiciário”.
O programa é considerado como uma das boas medidas que o estado vem empregando na esfera criminal para fornecer alento aos jovens com pena a cumprir, seja de reclusão forçada ou de serviços comunitários a se prestar.
Esse programa situado na Vara de Execução de Penas e Medidas Alternativas inclui a Constelação Familiar. Tem sido eficiente em formar entendimento para os apenados de que precisam cumprir a sentença mesmo que se sintam injustiçados.
A abordagem para que os condenados participem da Constelação Familiar centra-se na ideia de aproveitar esse tempo que deverão permanecer em cárcere, estudando e prestando serviços à comunidade, assim como o esforço de entender o que ocorreu para que chegassem a essa situação limite. Isso evita que o episódio não se repita posteriormente.
Santa Catarina
Outro estado que começou a empregar a Constelação Familiar como um método alternativo para reinserção social é Santa Catarina.
O tratamento é focado em pessoas com problemas com drogas, problemas mentais e que tenham conflitos familiares.
A medida recebe apoio da Vara da Família do Norte da Ilha de Florianópolis. É realizada com os apenados da Casa do Albergado Irmão Uliano e no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico.
Dependentes químicos
No caso das pessoas condenadas por crimes e que sofrem de transtornos mentais, estão incluídos também os que perdem a sanidade mental em decorrência do uso excessivo de substâncias nocivas.
A Constelação Familiar foca para que os indivíduos aceitem, identifiquem o vício, vendo o consumo de drogas como uma ferramenta propulsora de crimes.
Nos estudos mais avançados, trabalha-se o sentimento de aceitação da família e das causas que os conduziram à situação trágica de momento.
Características dos participantes
Geralmente os condenados que participam da Constelação Familiar apresentam características em comum.
Na maior parte das vezes, são réus primários que sucumbiram ao uso das drogas, no entanto, não participam de organizações criminosas e têm bons antecedentes.
Eles geralmente não representam grandes perigos, mas se não forem bem orientados, se forem entregues ao sentimento de total abandono, uma vez reclusos, podem se tornar reincidentes.
Algumas das características dos participantes:
- Baixa escolaridade;
- Condições de pobreza;
- Estrutura familiar desarmônica;
- Traumas familiares.
Os sentimentos que comumente exprimem:
- Abandono;
- Revolta;
- Impotência.
Constelação Familiar em outros contextos
Mas não é apenas no contexto penal que a Constelação Familiar é empregada.
Esses momentos de autodescoberta, de análise do passado para se compreender o presente e ter condições de moldar o futuro, são dolorosos e regenerativos ao mesmo tempo.
São úteis tanto para casos extremos, como os condenados por um crime inafiançável, como para pessoas que lidam com problemas familiares, como processo de separação ou divórcio.
Por isso, a Constelação Familiar vem sendo optada não só por juízes, mas por profissionais da saúde e terapeutas como alternativa para mediação e resolução de problemas familiares.
Se você achou o método interessante, se precisa de uma medida dessa natureza para recuperar a harmonia interna e dentro de casa, aproveite para conhecer o nosso Workshop de Constelação Familiar.
&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&
Nenhum comentário:
Postar um comentário