segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

*SIGA NA MORTE OU HONRE COM A VIDA*


Bert Hellinger no seu livro “No centro sentimos leveza” explica a expressão *eu sigo você*. Ela desnuda uma vontade intrínseca de seguir, na morte, aquele que partiu prematura ou abruptamente, ou, ainda, aquele que nasceu morto. Esse envolvimento ocasiona doenças ou riscos de vida. 

Mesmo que não efetive a morte, existe um namoro, de quem sente a ausência, com mais profundidade com a morte, “uma proximidade especial e um anseio”. A frase *eu sigo você* cria um forte vínculo com a família, como se de certa forma, com seu sofrimento e mesmo morte, aquela pessoa pudesse anular a separação e salvar outros membros da família.

Certa vez abri uma constelação e a mãe da cliente estava internada. No campo, a representante dessa mãe olhava para a morte. No desenrolar da constelação, se aproximou e por fim abraçou a morte. 

Naquele momento, lembrei de todos os ensinamentos de Bert sobre respeitar o campo e estar em sintonia com os destinos. Uma semana depois, a mãe da cliente faleceu.

Sendo a única certeza que temos, a morte ainda é um mistério que a muitos amedronta. Deixar que os mortos cuidem dos mortos, a difundida frase supostamente dita por Jesus Cristo, traz a mensagem de que devemos olhar para a vida, para o que se põe diante de nós como desafio diário de realização e crescimento. É difícil aceitar a morte, aceitar que aqueles que amamos foram embora, por isso muitos vivos querem se juntar aos mortos. Só que esse desejo, ao invés de alegrar aqueles que amamos, que já partiram, causa-lhes dor, como diz Bert. 

Os mortos querem que continuemos vivos, na alegria.

Existe também, por trás dessa frase, a dinâmica da culpa e da expiação. Às vezes, a expiação é totalmente inconsciente, aquele que está vivo simplesmente se recusa a ser feliz ou próspero como fidelidade ao que não teve a mesma chance. Sentir culpa por ter ficado é muito comum. Atendi um cliente cujo irmão morreu em um acidente de trânsito. Mesmo meu cliente não sendo o condutor do veículo, o simples fato de ter sobrevivido o fez se fechar para a vida, causando dor a si mesmo e aos seus familiares, que, por sua vez, acabaram perdendo dois filhos, um para a morte e outro para a culpa.

 Felizmente, o olhar sistêmico trouxe uma nova compreensão e um novo alento, que permitiu ao cliente ressignificar a perda do irmão.

*Honro com a vida*, 

uma frase que gosto de usar, é uma versão da frase “Honro a vida que vocês me deram e farei algo dela, em sua memória”, sugerida por Bert. É o que sugerimos para mãe que sofreu um aborto,, ao filho que perdeu os pais. Honrar com a vida é fazer algo dela que fortaleça a memória daquele que partiu, em seu nome, em homenagem a ele, é como dizer *honrarei vivendo, sendo feliz, fazendo algo pela humanidade, produzindo coisas boas, tornando os outros felizes. E farei por amor a você, em sua memória”. É tão forte e tão lindo.

Conheci uma jovem vítima de câncer, em estado gravíssimo, aguardando procedimento cirúrgico. Normalmente a visitava, aplicava reiki algumas vezes e em outras apenas segurava suas mãos com as minhas, numa inútil tentativa de passar-lhe um rasgo que fosse de energia. Um dia, ela sussurrou pra mim, durante uma visita em que seu quarto estava repleto de familiares: “antes de eu adoecer, eles viviam brigando. Minha doença reuniu minha família”

Naquele momento, no fundo da minha alma, senti que ela estava se despedindo. Pois ela passou por uma cirurgia de sucesso, milagrosa poderia dizer e, ao final de 20 dias, tinha desenvolvido o câncer em outro lugar, falecendo 40 dias depois. Seu destino tinha uma grandeza oculta que nem todos podiam perceber, mas ela, na sua juventude e inocência percebera.

“Existe uma outra dinâmica que acarreta, nas famílias e nos grupos familiares, doenças graves, acidentes e suicídios”, explica Bert. Quando uma criança sente que um dos pais quer ir embora ou morrer – talvez para seguir alguém de sua família de origem – ela lhe diz interiormente: “antes eu do que você”. Então, pode ficar doente, sofrer um grave acidente ou suicidar-se.

São os mistérios do amor que, segundo Hellinger, negamos levianamente. Por trás de muitas doenças condicionadas pela alma e pela história da família, é esse amor que atua, através da frase “Eu sigo você”, da necessidade de expiar por alguém, ou através da frase: “Antes eu do que você”. Nesse particular, pouco importa através de que doença ou de que ato temerário esse amor se manifesta. 

As dinâmicas básicas são iguais ou semelhantes, mesmo que sejam diferentes as doenças e os destinos.
Na revista da *Hellinger Sciencia* de 2007, Bert fala sobre os mortos: “A questão que se coloca é: o que é que resta para nós, que ainda estamos em vida, tendo permanentemente a morte em perspectiva e tendo-nos ela sob a sua mira? E precisamente quanto mais a tememos ou a pomos de lado, mais queremos abafar a sua chamada. Bem, só nos resta colocar-nos em sintonia com o que virá, tal como virá. Então estaremos no aqui e agora, com toda a confiança.
*Patrícia Naves Garcia*
Casa da Consciência
Uberlândia – MG

Gratidão 

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