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O melhor presente para os filhos? A nossa felicidade!
PUBLICADO POR ALEXPOSSATO ⋅ JANEIRO 21, 2015 ⋅ 2 COMENTÁRIOS
ARQUIVADO EM FELICIDADE DOS PAIS, LIVRE O FILME, REESE WITHERSPOON
presente para filho
Acabo de assistir ao filme “Livre”, com Reese Whiterspoon no papel de Cheryl, uma mulher marcada por uma vida dura, com pai alcoólatra, mãe passiva e sonhadora, drogas, compulsão sexual e um divórcio doloroso, que resolve fazer, sem nenhuma experiência anterior, a trilha conhecida como Pacific Crest Trail – simplesmente cruzar os Estados Unidos, da fronteira do México à fronteira do Canadá, a pé, pela costa oeste.
Como amante de caminhadas, e estou, junto com minha companheira, na fase final dos preparativos para o Caminho de Santiago de Compostela, resolvemos assistir e nos inspirar com este filme. Porém, não vou falar sobre trecking. Vou falar sobre pais e filhos.
Sou terapeuta de constelação familiar sistêmica, e tenho acompanhado muitos pais e mães com imensa dificuldade de acessar o próprio passado e se soltar de suas dores. E com isso, impedem, às vezes explicitamente, o sucesso dos filhos, a libertação deles, os movimentos que eles fazem rumo à própria felicidade. No filme, vemos um pai violento e alcoólatra, que agride a mãe e apavora os dois filhos, carregando-os de marcas para a vida adulta. Sabemos, pela constelação, que os filhos irão “copiar” o modelo aprendido, mesmo que tentem fazer exatamente ao contrário. A personagem Cheryl, como geralmente ocorre nestes casos, ficou inconscientemente ao lado da mãe. E negou o pai. Com razão, devido aos abusos e toda a situação.
Porém, o que ela atraiu para a própria vida? Um homem fraco para casar. Eu diria: um banana. Embora sei que muitas mulheres iriam dizer: que gracinha. Que homem atencioso! Quer dizer, a visão de homem que ela possui para uma relação estava tão dolorida, que ela atraiu um homem que não era homem. Era muito mais feminino, cuidador, preocupado com ela… do que ela mesma. Numa das falas, entendemos que nem há mais sexo entre eles. Ela casou quase que com sua própria mãe. Vou falar dela logo mais. Porém, um outro lado da protagonista estava vinculado ao pai. Ela queria sexo. Queria drogas. Queria o mundo sórdido e promíscuo do pai – repito: tudo inconscientemente. E mergulhou de corpo e alma nesta vida.
E a mãe? O personagem da mãe, muito bem interpretado por Laura Dern, era um doce. Sonhadora, cuidadosa, artística, queria ser livre! E apesar de tantas marcas e dificuldades, não perdeu a capacidade de sonhar e querer mais, embora um câncer precoce a impediu de ir além. Num dos diálogos que muito me lembrou uma constelação sistêmica, a filha, raivosa contra a passividade e bom astral da sofrida mãe, vivendo uma situação de dificuldades financeiras, virou-se contra ela e jogou-lhe na cara, algo mais ou menos assim:
– como você pode ser feliz? Você é inconsciente? Estamos sem dinheiro. Sem nada. Você casou com um homem bêbado, que lhe batia e não lhe deixou nada… como você pode sentir-se bem?
E a mãe, simplesmente, retrucou:
– eu sou consciente de tudo. Mas ele me deixou vocês dois.
Se fosse uma constelação, a frase que diríamos seria algo assim:
– ele é seu pai. E o que ocorreu entre nós dois não é da sua conta. Ele é o grande. Você é a pequena.
Em outro momento do filme, a mãe, já consciente da doença grave que a dominou, reclama:
– eu nunca fui quem eu queria ser. Fui mãe e esposa, e agora, quando estava querendo ir além, estou impedida.
Encontre o seu caminho de felicidade
Enquanto ficamos presos aos padrões que herdamos da nossa família, grande parte deles contaminados por profundas tristezas, abandonos, agressões, incompreensões, mentiras… por melhor que queiramos ver nossos filhos, se não nos libertamos, estamos deixando a eles uma herança difícil. Observe como é comum nossos filhos repetirem, de formas diversas, os problemas que nós não sabemos lidar em nossa própria vida. Nosso relacionamento afetivo foi ruim, os filhos também atraem relacionamento ruim. Houve traição? Nossos filhos também traem ou são traídos. Temos vícios ou pessoas viciadas fizeram parte de nossa vida… nossos filhos se viciam ou relacionam-se com viciados. Houve quebradeira e dificuldades financeiras no passado familiar, e no nosso passado… nossos filhos vivem uma montanha russa nas finanças.
Para nós, pais conscientes, é importante fazer o caminho de volta. Olhar para as dores que temos dentro de nós, e nos responsabilizarmos por elas. Ficarmos em paz com todas as agressões que sofremos no passado… para que este passado descanse em paz. Saber o que nos faz feliz, e ir atrás disso. Reconciliar-se, ao menos internamente, com todos os homens e mulheres que passaram na nossa história. E deixá-los no passado, pois são passado. Deixar o parceiro, parceira, viver a vida dele, para podermos ver o que realmente é importante para nós. Deixarmos os filhos viverem a vida deles, enquanto nós vivemos a nossa…
Sistemicamente falando, não há herança melhor para os filhos do que ver seus pais felizes e livres, apesar de todos os percalços que passaram. O filho fica feliz quando sabe que o pai respeita e honra a mãe, mesmo que separados. E vice-e-versa. Quando isso começa a ocorrer, os filhos vão se sentindo também livres, para buscarem a própria felicidade. Lembrando que a felicidade dos pais pode ser muito diferente da felicidade dos filhos. É importante respeitar as escolhas de cada um. E saber que, no final, Algo Maior está conduzindo todos os caminhos, por mais complicado que possamos achar. Não cabe a nós interferir na vida de outro adulto, alguém que também está a procura da própria felicidade, como nós. E que precisa aprender a achar o caminho sozinho… como nós também.
GRATIDÃO ALEX !
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