“Não há um modelo a ser seguido para alcançar a felicidade. Existe a felicidade das crianças, que brincam esquecidas de si mesmas, ou dos apaixonados. Tudo isso é muito bonito.
Mas, nesse sentido, realização não é felicidade. É estar em harmonia com a grandeza, mas também com o sofrimento e com a morte. Isso possibilita um reconhecimento profundo, dá peso e serenidade.
É algo bem tranqüilo. É a felicidade como conquista. E não tem a ver com ficar esquecido. Tem a ver com a força interior.
Bert Hellinger
"Muitas vezes a boa solução é difícil, pois nos faz perder a importância."
Bert Hellinger
O centro
Alguém se decide afinal a saber. Monta em sua bicicleta e pedala para o campo aberto, afastando-se do caminho habitual e seguindo por outra trilha.
Como não existe sinalização, ele tem de confiar apenas no que vê com os próprios olhos diante de si e no que mede com o seu avanço. O que o impulsiona é, antes de tudo, a alegria de descobrir. E o que para ele era mais um pressentimento, agora se transforma em certeza.
Eis, porém, que o caminho termina diante de um largo rio. Ele desce da bicicleta. Sabe que, se quiser avançar, terá de deixar na margem tudo o que leva consigo. Perderá o solo firme, será carregado e impulsionado por uma força que pode mais do que ele, terá de entregar-se a ela. Por isso hesita e recua.
Pedalando de volta para casa, dá-se conta de que pouco conhece do que poderia ajudar e dificilmente conseguirá comunica-lo a outros. Já tinha vivido, por várias vezes, a situação de alguém que corre atrás do outro ciclista para avisá-lo de que o para-la está solto.
“Ei, você aí, o seu para-la está batendo!” –
“O quê?” –
“O seu para-lama está batendo!” –
“Não consigo entender”, grita-lhe o outro,
“meu para-lama está batendo!”
“Alguma coisa deu errado aqui”, pensa ele. Pisa no freio e dá meia volta.
Pouco depois, encontra um velho mestre e pergunta-lhe: “Como é que você consegue ajudar outras pessoas? Elas costumam procura-lo, para pedir-lhe conselho em assuntos que você mal conhece. Não obstante, sentem-se melhor depois”.
O mestre lhe responde: “Quando alguém para no caminho e não quer avançar, o problema não está no saber. Ele busca segurança quando é preciso coragem, e quer liberdade quando o certo não lhe deixa escolha. Assim, fica dando voltas.
O mestre, porém, não cede ao pretexto e à aparência. Busca o próprio centro e, recolhido nele, espera por uma palavra eficaz que o alcance, como alguém que abre as velas e aguarda pelo vento. Quando alguém o procura, encontra-o no mesmo lugar aonde ela própria deve ir, e a resposta vale para ambos. Ambos são ouvintes”.
E o mestre acrescenta: “No centro sentimos leveza”.
Bert Hellinger – Livro “No centro sentimos leveza”.
Bert Hellinger – Livro “No centro sentimos leveza”.
""Acho que a primeira vez que ouvi essa história, estava exatamente diante do rio. Olhava pra trás, pra toda minha bagagem, e não tinha certeza se estava segura o suficiente para deixá-la e seguir em frente. Sim, já era um avanço eu ter chegado até ali. Assim como o personagem da história, eu estava decidida a saber, a entender. Já havia abandonado meu caminho habitual e seguia por uma trilha diferente. Nela, aprendi a confiar apenas em mim, na minha intuição e naquilo que eu conseguia visualizar na medida em que ia avançando por esse novo trajeto. Porém, chega um momento nessa fase da mudança, que já não há como controlar tudo aquilo que se movimentará ao seu redor a partir das suas novas escolhas. E esse movimento é como o movimento das águas. Não há quem os detenha, quem os manipule. E você precisa se entregar. Ao invés de controlar, confiar. Mas essa entrega é BEM complicada, não é?
Estamos tão acostumados a ter o controle de tudo nas nossas mãos, literalmente. Vivemos em meio à relógios, tabelas, alertas, lembretes, balanças, que nos dão controle, controle e controle. Ufa. Mas assim como é complicado nos entregar, também é cansativo controlar à tudo e à todos.
Receoso de adentrar nesse fluxo, nessa fluência das águas, o personagem recua. Eu certamente já recuei algumas vezes, mas acho que já consegui me entregar outras tantas. Não, esse mergulho nem sempre é exclusivamente refrescante e prazeroso. Encontrei pedras, MUITAS pedras no caminho, mas assim como as águas, acho que apenas fluí por elas. Não fiquei ali remoendo e repensando o porquê de elas estarem ali. Não bati boca, não quis me impor ou explicar muito as minhas novas atitudes, os meus novos caminhos. Apenas confiei em mim, na minha capacidade e fluí. Gostosa essa palavra…F-L-U-I-R.
O problema de hesitar, de recuar, é que jamais voltaremos os mesmos, porque já entendemos, de uma certa forma, que aquele caminho que escolhemos não seguir, era o caminho certo. Como mesmo o mestre diz mais pra frente, às vezes o certo não nos deixa escolha. E então, você se pergunta durante esse retorno, como conseguirá ajudar aos outros, se não consegue nem se ajudar.
Pra mim, a parte do para-lama é S-E-N-S-A-C-I-O-N-A-L!!!!! Eu, como uma co-dependente em recuperação, estou sempre exercitando essa contenção. Mas agora que já me “curei”, observo como existem pessoas que estão muito mais preocupadas em avisar o outro que o para-lama dele está batendo, do que cuidar do seu. Da sua vida, dos seus relacionamentos, da sua saúde, da sua casa. Porque me diz, como você pode cuidar de si, desviando toda sua atenção e suas energias pra vida do outro? E o pior, muitas vezes essa pessoa até já sabe que o para-lama dela está batendo. E ela está tentando lidar com aquilo, ela mesma. Ela está dando o seu melhor, resolvendo da sua forma. Não precisa que ninguém mais a lembre disso. Enfim, fica a dica: cuidem do SEU para-lama. Às vezes ele também está batendo e você nem percebeu.
A parte do mestre também me lembra muito o que eu aprendi sobre a Co-dependência e as Ordens do Amor, de Bert Hellinger. O mestre é mestre, justamente porque permanece em seu lugar. Ele não tem a intenção de ajudar ninguém ou de saber mais do que as outras pessoas. Como ele mesmo diz na frase, que eu faço questão de repetir: “Quando alguém para no caminho e não quer avançar, o problema não está no saber. Ele busca segurança quando é preciso coragem, e quer liberdade quando o certo não lhe deixa escolha. Assim, fica dando voltas”. Quando nos deparamos com um rio no nosso trajeto, a questão não está no “saber o que fazer”. Buscamos segurança, quando precisamos de coragem. Ficamos receosos de adentrar no desconhecido, em algo que é mais forte que o nosso controle. Mas como eu falei ali em cima, precisamos confiar. Caso contrário, ficaremos indo e voltando, porque quando uma coisa não está certa, esse mesmo rio se prostrará inúmeras vezes na nossa frente, até o dia em que nos engolirá. Porque nesse caso não é uma questão de liberdade ou de se escolher o caminho. Existem situações que só desaguam em uma solução, em um prosseguimento.
E a finalização, que traz a frase que dá título ao livro em que essa história está inserida, traz uma mensagem muito especial. Porque só quem compreende que possui um lugar e que deve permanecer nele, entende de que leveza se está falando. Pelo menos, é essa a minha interpretação da frase. Quando nos despimos de um falso altruísmo, quando paramos de meter o dedo na vida do outro e ocupamos o nosso lugar, quando paramos de carregar cargas que não são nossas….ah, que sensação maravilhosa de leveza que sentimos.
Ufa, fazia um tempão que não escrevia um post tão longo, mas acho que valeu a pena. Espero que a história tenha tocado algum de vocês. Quem sabe, não era o que faltava pra você criar coragem e se entregar ao movimento das águas, das mudanças e das transformações…
Então, flua e deixe fluir.
beijos, Juliana Baron Pinheiro""
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